Introspectivo...

"The Thinker" by Rodin
Desde que soube a minha última nota da faculdade que fiquei com algum tempo para pensar em tudo o que me aconteceu durante os meus três anos no ensino superior. Não só a nível académico-profissional mas também, e principalmente, na minha vida pessoal...


Estes 3 anos tiveram um grande impacto em mim. Faleceu o meu avô, nasceu o meu sobrinho, fiz amizades, perdi outras, aprendi a confiar mais, mas também a duvidar menos de mim e das minhas capacidades. Conheci uma outra realidade, acabei abandonado mas, mesmo assim, consegui elevar-me acima disso e chegar ao meu objectivo.

Desde que comecei a pensar "tentar" a faculdade que o meu objectivo foi um único só... ter uma licenciatura. Nunca pensei em ganhar amizades, entrar no "espírito académico" (seja lá o que isso for) tentar arranjar desculpas para me divertir, nada disso! Aquilo que eu queria era graduar-me, e assim consegui. Mas... a que preço?

Não falo de valores monetários. De quanto 'custa' andar no ensino superior. Eu ainda assim tive a sorte de ter entrado para uma instituição pública, mesmo assim os custos são elevados: transportes, alimentações, propinas, material para trabalhos, fotocópias (muitas fotocópias)... tudo isso é uma pequena fortuna no final de cada ano, mas não se trata desse preço que escrevo.

Digo antes o facto de ter sacrificado de pessoas que considerava importantes para chegar ao fim de algo como isto. Durante os anos de faculdade não posso dizer que fui sempre uma pessoa muito presente. Ia às aulas e fazia os trabalhos, tive com os meus colegas mas nunca me senti integrado com eles, além disso existiam (e existem) pessoas às quais eu podia (e devia) ter dado mais atenção, mais companhia, mais... interesse digamos assim. Mas eu sempre senti que entre isso e sacrificar a faculdade nunca hesitei em optar pela segunda por achar a mais fiável. Os estudos tiveram de vir sempre primeiro e nunca pensei diferente... até agora.

Hoje olho para trás com nostalgia e algum remorso ou saudade. Talvez não devesse ter me fechado como fechei, talvez devesse ter estendido a mão mais vezes, talvez devesse ter dito obrigado mais vezes, talvez devesse ter sido diferente para agora as coisas também serem diferentes, não sei... Nunca me preocupei com isso até agora que o meu objectivo está comprido.

Mas (como alguém me disse) "as coisas são como são" e não se podem alterar só porque nós preferíamos que fossem diferentes, mas fica sempre a sensação que talvez, no final das aulas, dos estudos, dos trabalhos, das conversas, dos risos, das lágrimas, dos nervos, das surpresas e das desilusões, houvesse algo mais dos que só uma linha no currículo a dizer... licenciado.

(",)


Comments

Pedro Cruz said…
"Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar"

- Jorge Palma, "A gente vai continuar", 1982

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